sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Máquina de calcular


Há um certo orgulho burgesso no facto de termos as piores notas em Matemática. Estudar e ter bons resultados ainda é, para alguns, um sinal de falta de masculinidade, de perda de tempo, uma espécie de sarna que só apanha quem lê livros, quem é curioso, ou quem prefere passar o meridiano da escolaridade obrigatória. Numa sala cheia de ignorantes, a vítima dos calduços será sempre o tipo que usa óculos - porque na lógica ignorante dos lugares comuns, os óculos representam excesso de leitura ou interesses além daqueles que são definidos pela programação televisiva e pelos questionários de verão a Cristiano Ronaldo.

Mesmo o diploma universitário tem, por vezes, um brilho parolo, porque é tido, entre muitas famílias, como uma obrigação social e uma garantia de entrada no mercado de emprego. 'Tens de ser doutor'. 'Mas ele até é formado'. 'Quero os cheques e os cartões com o título de Engenheiro '. Uma licenciatura vale tanto no mercado das expectativas sociais como um telemóvel ou um carro ou um plasma. Por cada aluno que abandona o liceu há pelo menos um licenciado segurando um diploma como se guiasse um carro com jantes especiais. Um curso superior passa a ser um lugar de chegada, em vez de um lugar de partida. Cumpridas as expectativas de sermos doutores, podemos voltar a ser estupidamente passivos, com cérebros obesos e corações conformistas.


Que as pessoas queiram ser estúpidas, eu até compreendo. É mais fácil, dá menos trabalho - ser um agente passivo na vida (como um porco na engorda) é como estar bêbedo dentro de uma banheira de água quente: um estado de consciência que o escritor Tom Jones chama de 'aqui e agora' - e eu acrescento: e que tudo o resto se foda.


Mas quando a estupidez cria títulos de jornal como: 'Custo da Casa da Música derrapou 78,2 milhões', dou-me conta que não se trata apenas de um problema de matemática (não se enganaram em 500 mil euros, mas em 78,2 milhões), trata-se de má fé. E em alguns países isso dá prisão.

2 comentários:

joaninha versus escaravelho disse...

O que convém aos senhores, que "dizem que governam" o nosso país, é isso mesmo: o povo não deve saber fazer contas!
Tive uma cadeira, num "curso de engenharia" que tirei, chamada Elementos de Estabilidade. Estava relacionada com "esforços" em estruturas metálicas. Se não acertássemos os resultados arredondados às milésimas, estávamos sujeitos a ter um zero na pauta. Eu, se errasse o cálculo às milésimas já tinha deixado Portugal às escuras.
Caíam os postes de Alta Tensão...
Se déssemos um erro de 70 e não sei quantos milhões e em não sei quantas obras, por este país fora, Portugal já não devia ter caído??

Não percebo nada de finanças... :(

busycat disse...

Também ouvi a noticia dos 72 milhões hoje de manhã e fiquei a pensar: ainda dizem que não se gasta dinheiro na cultura em Portugal!!

beijo