quarta-feira, 17 de março de 2010

Crónica de segunda feira, no jornal i


Sado saudita

Porque tantas vezes a realidade supera a ficção, há lugares mais estranhos que o País das Maravilhas ou o maligno Mordor, do Senhor dos Anéis. Lugares onde as mulheres não podem conduzir, viajar sem um homem da família e, apesar de serem a maioria nas universidades, representam cinco por cento da população activa. Lugares onde se cortam as mãos a quem rouba, lugares que condenam à morte rapazes de 13 anos e onde uma mulher, violada por um grupo de homens, foi punida com 200 chicotadas e seis meses de prisão. Lugares que apoiaram e financiaram Osama Bin Laden durante anos, que produziram 15 dos 19 terroristas que colapsaram as Torres Gémeas e que, detendo grande parte do petróleo mundial, tratam os imigrantes ilegais como escravos. Lugares com centenas de príncipes milionários que beneficiam da complacência e dos negócios dos príncipes da democracia ocidental – Frank Carlucci, da administração Reagan, James Baker, da administração Bush, Arthur Levitt, da administração Clinton, e John Major, ex primeiro ministro britânico, todos eles são ou foram celebridades do Grupo Carlyle, grande parceiro de negócios do governo saudita. Neste lugar absurdo, que existe, um homossexual foi condenado, na semana passada, a mil chicotadas por aparecer num vídeo, no youtube, a cortejar outro homem. Acredito que ser religioso é muito mais uma escolha do que ser homossexual. Mas, neste lugar estranho, eu estaria enganado. Nem sequer a religião é uma escolha: a lei decreta que todos os cidadãos sauditas são muçulmanos.

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