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Haverá sangue?
No restaurante Tigelinha, em Lisboa, cabe muito de Portugal: a televisão está sempre ligada nas notícias ou no futebol, os homens enfrascam-se ao almoço e comentam o país com frases batidas mas reveladoras daquilo que somos: “Fugir aos impostos não é crime, é legítima defesa.” Há uma semelhança entre os comensais do Tigelinha, que dizem agir em legítima defesa e o resto dos portugueses, os políticos, os dirigentes de futebol, os procuradores, os jornalistas, os empresários, os banqueiros ou aqueles que estacionam em segunda fila. A verdade é que o progresso de uma sociedade não se mede apenas pelo número de canais de televisão, mede-se também pela forma como a sociedade, e não apenas a justiça, lida com a sua malandragem – e não falo só de enganar o IRS. Nós, os portugueses, costumamos ser coniventes, encolhemos os ombros, agimos em “legítima defesa”.Uma personagem do filme “O Padrinho” diz que, por vezes, é preciso uma guerra para acabar com o sangue mau e começar de novo. Não precisamos de uma guerra, mas, num país onde a impunidade se transformou em folclore, faz falta que vejamos, em directo e pela televisão, uma pena de prisão efectiva e algemas nos pulsos dos trafulhas que empatam o país. Faz-nos muita falta essa imagem da queda de um gigante. Não se trata de populismo, a sério, trata-se apenas da necessidade de sobreviver ao sangue mau, trata-se de começarmos a ter vergonha na cara. Se os sinos dobrarem, finalmente, por eles, talvez nos demos conta que também podem dobrar por nós.
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