segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Repórteres do coração
O comediante Ricky Gervais tem a habilidade de dissecar a indústria mediática com a precisão de um sabre Jedi. No episódio final da série “Extras”, a sua personagem, um actor que participa no Big Brother dos famosos, tem um momento de lucidez diante dos colegas de reality show: “A imprensa segue-nos e faz com que as pessoas achem que somos importantes. Se deixassem de nos seguir o público não saía para a rua a dizer ‘Preciso rapidamente de ver uma foto da Cameron Diaz com uma borbulha’. Dizem-nos que é exploração, mas que é o que as pessoas querem ver. Deviam ter vergonha. Eu devia ter vergonha”.
O acompanhamento televisivo da tragédia no Haiti tem gerado, por vezes, essa sensação de vergonha: quando um repórter segurou uma criança resgatada diante da câmara como se fosse a Taça Davis; quando os noticiários mostraram fotografias do desastre acompanhadas de música épica. Então, o Haiti torna-se no Ídolos, na capa da Nova Gente, no papparazo escondido nas dunas. O repórter que escolhe a exploração e que alimenta o dramatismo como num reality show mata um importante princípio do ofício: quando uma história é grande as palavras são pequenas.
Uma boa notícia para Gervais: em Inglaterra, baixaram as vendas das revistas (exploratórias) do coração. Um má notícia para o jornalismo: todos os repórteres que usam os haitianos, com empenho circense, pondo assim a tragédia ao nível das borbulhas da Cameron Diaz.
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1 comentário:
se os bons jornalistas não estivessem 2 meses sem bloggar, o mundo seria um local bem melhor!
(como quem diz, tinha saudades de o ler^^)
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