terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Um ano e uns dias depois
Jon Favreau, responsável pelos discursos de Obama, conseguiu o emprego com esta frase: “O que mais me impactou foi o facto de [Obama] contar uma história do princípio ao fim – uma história sobre a sua vida, e como ela se encaixa numa história maior – a história americana”.
A narrativa americana é um legado de Shakespeare: focada num herói, na transposição dos obstáculos e na forma como o herói muda durante a viagem. Os herdeiros americanos de Hamlet são Muhammad Ali, John F. Kennedy ou até Tony Soprano que, falando sobre si mesmo, descreveu a psique americana nos últimos tempos de George W. Bush: “É bom participar nalguma coisa que se construa desde o chão, e sei que nasci demasiado tarde para isso, mas ultimamente sinto que cheguei no fim, que o melhor já acabou”.
Obama foi sempre shakespeareano – o rapaz negro, que estudou em Harvard e que, apesar de todas as contrariedades, chegou a presidente. O seu percurso de mudança encaixava na grande narrativa americana.
Mas, enquanto presidente, Obama defrontou-se com outro tipo de narrativa: a tragédia grega, na qual o herói se torna num indivíduo cujo destino não depende apenas de si, está na mão dos deuses. Hoje, os deuses foram substituídos pelas instituições enferrujadas – as mesmas que negligenciaram os sinistrados do furacão Katrina –, pelos lobbies de Washington ou pela Goldman Sachs.
Durante a campanha, Obama disse: “Sou alguém que acredita neste país e nas suas instituições. Mas também acho que o país e as instituições estão danificados”. Segundo os últimos inquéritos de opinião, Obama já não é um herói shakespereano, é um indivíduo.
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1 comentário:
Adorei as comparações. Belíssimo post.
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