segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Saturday night rain, crónica no i


Fumando, espera

Ela segura um chapéu-de-chuva amarrotado e as suas roupas, apanhadas pela tempestade, parecem tão tristes como rímel desbotado. Já não chove mas Lisboa continua abocanhada pela humidade, a calçada escorregadia, os pingos saltando dos toldos das lojas para a nuca de quem passa. Ela está na saída da estação de metro, tem roupa de discoteca numa noite de sábado em que a meteorologia lhe sabotou a maquilhagem e o penteado. Fuma e, com os dois polegares, não pára de teclar mensagens como se a lista de contactos do telemóvel a impedisse de sentir-se sozinha. E tens auscultadores nos ouvidos – com toda a certeza uma banda sonora que permite transformar a espera num teledisco. Passam muitas pessoas mas ninguém conhecido, ela olha para todos os lados, a perna direita tão inquieta como antes da oral de estreia na faculdade. Ela é nova e deve ter hora para chegar a casa. Começa a chover outra vez, mas pouco, uma espécie de vapor que se cola na cara como creme Nivea. Ela morde muitas vezes o lábio inferior, tenta abrir o chapéu-de-chuva com duas varetas fora de sítio. Não consegue. Penso que está prestes a chorar mas o telemóvel toca, ela atende e começa a procurar alguém. E é então que sorri, esquecida da roupa fria e do cabelo desarrumado, começando a caminhar na direcção dos rapazes e das raparigas que trazem garrafas e alegria alcoólica no volume da voz. Um rapaz beija-a na boca. Dão-lhe uma garrafa e ela bebe – uma, duas, três vezes. Já não se sente sozinha e segura o cigarro como num poster de cinema. Que a noite te seja leve, miúda.

1 comentário:

Cuca, a Pirata disse...

Simplesmente, fantástico.