quinta-feira, 20 de maio de 2010

crónica no jornal i


Uma coisa de cada vez

Portugal teve sorte, não fosse a urgência em resolver a crise e talvez a sociedade se fracturasse por causa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Espanha, que aprovou este tipo de união em 2005, esteve, como se sabe, perto de uma guerra civil assim que os homossexuais se começaram a casar, transformando-se numa Sodoma descontrolada. Os gays corromperam os heterossexuais, homens bem casados passaram a frequentar quartos escuros e a família tradicional é hoje tão rara como o lince ibérico. Quando os gays se casam, como está provado cientificamente, o mal abate-se sobre todos nós. Na segunda-feira, o Presidente da República alertou para os perigos desse desmoronamento social, sublinhando que os partidos deviam ter optado pela solução dos países que contemplam uma união civil mas recusam chamar-lhe casamento, por causa das consequências que daí decorrem (não disse quais seriam, na prática, essas consequências). Ou seja, o risco de ruína está na forma como se chamam as coisas. União civil: o país aguenta-se. Casamento: Portugal em queda-livre. O Presidente acha que apenas somos capazes de preocupar-nos com uma coisa de cada vez, como se os portugueses não conseguissem mastigar e caminhar ao mesmo tempo. Se combatemos a crise não podemos concentrar-nos em mais nada, nem casamento gay, nem mundial de futebol, nem mesmo na hipnótica e despesista visita do Papa, durante a qual o Presidente se recusou a comentar a situação económica do país porque estava em Fátima. Nisso, o presidente é como nós, só faz uma coisa de cada vez.

1 comentário:

busycat disse...

Faz-me lembrar alguém. Imagina-nos à sua imagem e semelhança!