sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Guerra dos Mundos
Mudei-me para Nova Iorque semanas após o 11 de Setembro. Fui viver para Madrid poucos meses após o 11 de Março. Pensei, nos últimos meses, passar uma temporada na Índia no início do próximo ano. Ou tenho uma propensão para sítios recentemente destroçados pelo terrorismo islâmico ou o mundo é, sem dúvidas, um local perigoso.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Feromonas de açúcar
Os homens têm menos capacidade de olfacto que as mulheres. Uma criança tem muito mais papilas gustativas que um velho - daí a nossa excitação infantil com os gelados, o nosso comportamento canino, farejando em redor de uma mesa de aniversário coberta de doces. Por norma, as mulheres associam as memórias da mãe ao seu cheiro. Nós, os humanos, cheiramos e saboreamos, no entanto, somos provavelmente o bicho mais visual de todos os bichos.
Mas há ainda muitos dias em que a nossa programação genética ancestral se põe a mandar no corpo. Como hoje: descia a rua em direcção aos correios. O mar ali ao lado, a praia vazia, os prédios na costa reflectindo o sol, espalhando para todas as direcções a qualidade anti depressiva da luz natural.
E, de repente, cruzei o vapor de alguma pastelaria, partículas que se instalaram ao meu redor, o cheiro das bolas de berlim, o mesmo cheiro que me fazia sair do oceano, em pequeno, abandonando o campeonato de carreirinhas para correr na direcção do chapéu de sol, o quartel general da família: "Mãeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee. Vem aí o homem das bolas de berlim." E a minha mãe, incapaz de perceber onde estava o homem das bolas, mas crente nos meus super poderes de percepção, dobrava-se sobre a sua carteira para encontrar moedas. Eu podia antecipar o homem das bolas mesmo se ele estivesse na outra praia. Nem toldos, nem bolas gigantes da Nivea, nem jogos de raquetes conseguiam ocultar o homem das bolas. Eu sabia exactamente onde ele estava.
Mal tinha as moedas num punho fechado, tão apertado como o coração de uma estátua, corria pela praia derrapando nas curvas, definindo o percurso com a rapidez mental de um agente secreto: saltar por cima daquele colchão, cuidado com a areia no jornal desportivo do homem com a tatuagem, ali tens um pouco de sombra para aliviar os pés em chamas, pisaste um garfo de plástico, Foda-se, não digas Foda-se que a tua mãe pode ouvir-te; o homem das bolas vai parar junto daquela senhora que acena uma mão de pulseiras e anéis; e se ela compra todas as bolas? e se só há duas? os outros miúdos já começaram a vir nesta direcção, corre, mais rápido, ninguém te poderia apanhar agora, não estás cansado, és um pequeno animal, o oxigénio a alimentar os pulmões, o teu coração embatendo contra a parede de cada artéria, o coração no corpo todo.
Comprava duas bolas para mim, e as outras, que a minha mãe me encomendara. Comia a primeira no caminho de regresso ao chapéu. O pequeno animal balançando a presa na boca - ainda que me tivessem caído os incisivos de leite nesse verão. O meu irmão mais velho arrancava-me o saco dos dedos. A minha mãe levanta-se, dizia que a outra bola ficava para o lanche, e antes que pudesse alcançar o guardanapo para me limpar o bigode de açúcar, já eu estava a esfaquear as ondas, e a gritar para o meu irmão: "Viste esta? Viste esta?"
Talvez tenha sido por isso que, ao atravessar o cheiro da bolas de berlim esta manhã, comecei a correr, a correr até sentir que ainda tenho pernas, que a caixa torácica se enche como um balão de ar quente, que o coração ainda pode pulsar por todo o sistema sanguíneo. No final da corrida estava no correios. Comecei a rir. Sentia-me bem. E tu não estavas lá, mãe. Nem o chapéu de sol, nem a sombra onde lia livros da Mónica e do Cebolinha, nem a toalha com o Super Homem, nem a tua diligência de mãe a procurar o guardanapo, a agachares-te, ficando do meu tamanho, para me tirar a franja do olho esquerdo e me magoar um pouco (sei que não era de propósito) quando afastavas os grãozinhos de açúcar da minha pele. E ainda que não possa, não consiga - não sou como as mulheres - lembrar-me do teu cheiro, imagino agora que cheiravas a bolas de berlim. Não é verdade, é um truque que inventei, mas espero que trates a minha mentira de hoje com a mesma idulgência de mãe, com que cedias aos meus pedidos sem interrupções: "Mãeeeeeeeeeee. Posso comer a segunda bola antes do lanche?"
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Crazy
Bill Maher é um comediante de luvas de boxe. Meteu-se em sarilhos nas semanas após o 11 de Setembro, ao dizer, no seu programa da ABC, que os terroristas suicidas eram corajosos. A frase foi usada pela propaganda nacionalista de maneira a que parecesse que Maher estava a apoiar os atentados. Ele estava apenas a dizer que sim, que são preciso balls para ser protagonista de tamanha alarvidade homicida. Muitos querem pensar que só os loucos são capazes de coisas assim. Não querem reconhecer que mesmo a humanidade sem patologias mentais é capaz de ser brutalmente inumana. Bill Maher foi despedido. A HBO pegou nele e deu-lhe um programa - Real Time with Bill Maher ainda está no ar.
E agora saiu o seu novo documentário, sobre religião: Religulous. Mal posso esperar. Bill Maher: uma ovelha fora do rebanho. Graças a Deus.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Les Belles Lettres
Sou muito mais prosador que poeta - em tempos julguei-me poeta (a adolescência hormonal dizia-me que precisava de cantar odes triunfais, de impressionar as miúdas, de me destacar dos rapazes com a camisa do cavalinho e o penteado redondo a la Luís Represas).Mas a minha estrutura mental não me permite exercícios monumentais de síntese, preciso de fôlego, preciso de falar e de contar histórias. A poesia, por sua vez, como a música, precisa de uma inspiração ancestral que não disponho. A poesia é um momento (a felicidade, já dizia Borges, é a soma desses momentos). A prosa é um desejo de continuidade, o percurso que começa quando Deus acendeu o candeeiro da humanidade e acaba no dia em que o planeta se apague. Gosto de ler poesia. Mas não sou capaz de escrevê-la. Este é o último poema que escrevi, a pedido da minha editora. É, julguei eu na altura, um poema de amor. Foi escrito há cinco anos. Nunca mais me pus a escrever na vertical. E pô-lo aqui (como se me apanhassem nu atrás da cortina do duche) é um exercício de expiação. Melhor: fecha-se uma porta, abre-se a vida inteira.
CASA
se algum dia por acaso
eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
podes abocanhar-me
caçar-me com os incisivos balançar-me na boca
não aceites as minhas habituais desculpas
de nómada
nem
acredites quando te disser que tudo o que tenho
cabe dentro de uma mala
começa por esconder-me os sapatos
convence-me a destruir os mapas de viagem
e a engolir âncoras pedras
um endereço com número na porta
mesmo que o meu desassossego geográfico
estremeça a perna direita
debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
não hesites
leva-me para tua casa
prova-me que não tenho de apanhar o último comboio da noite
que incendeia a costa e que me ajuda
a fugir todas as madrugadas
recebe-me nas zonas sem roupa
do teu corpo
manobra-me a língua
usa-me
quando a tua carne já não precisar de mim
amarra-me
cuida do meu sono temporário
obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
sem coração nunca autorizaram:
esta noite durmo contigo
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segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Calendas Gregas
É uma pergunta sincera. Talvez algum jurista me possa responder. Está bem, há um pouco de inquietude da minha parte, e mais um tanto de ironia (ou será incredulidade?). Mas alguém me pode explicar porque razão o julgamento dos atentados de 11 de Março, em Madrid, que tratava da morte de 191 pessoas, de uma rede de terroristas islâmicos com contactos globais, e que teve de esclarecer várias teorias da conspiração lançadas para confundir a opinião pública e os juizes, demorou apenas quatro meses e meio (depois mais três meses para a leitura da sentença), sendo que o julgamento do processo Casa Pia já leva quatro anos em cima e só hoje se irão fazer as alegações finais?
Gostava mesmo de saber. Quem me puder esclarecer, por favor, não faça cerimónias e explique-me tudo isto como se eu fosse uma criança de cinco anos.
Obrigado
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Walk the line
pode ser o táxista de terço pendurado no retrovisor. pode ser o cunhado que trabalha na televisão. pode ser o informático da empresa que insiste em que chamemos máquina ao PC. pode ser o nosso colega de carteira na formação da empresa. pode ser o senhor da pastelaria que diz que até tem um sobrinho gay. pode ser o bezanas que catapultou o Audi para a copa de um pinheiro, e de quem vamos receber um transplante de coração. pode ser o vizinho, o irmão, a amante: muitos portugueses assinariam por baixo (à boca pequena e numa cabine de voto) as palavras (dentro ou fora de contexto) da presidente do PSD.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
nenhuma frase trabalhada, nenhuma vida no papel, nem no ecrã de um computador. quando a outra vida, a malvada, a dolorosamente real, a que só depende de acções e não de literatura, nos aparece assim, quando os outros morrem, e caem em desgraça, e precisam tanto de nós, todas as figuras de estilo são insuficientes. hoje temos o sangue contaminado, as nossas falhas, que nos cortam, que nos deixam lascas dentro da carne. hoje (ouve-me por favor) hoje é a sério. hoje tens a minha cara, o meu regresso, o meu coração invencível. vai demorar, vai-te doer, não sairás debaixo desse punho esmagador tão cedo. mas hoje prometo-te que não me vou embora. estou aqui. ouve-me. peço-te que me escutes esta vez: prometo-te, mano
prometo-te mesmo
que vai ficar tudo bem.
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prometo-te mesmo
que vai ficar tudo bem.
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segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Vox Populi
Os Contemporâneos têm muita graça. Mas além da qualidade dos textos e do talento dos actores, sabem aproveitar (neste caso Bruno Nogueira com um timing cómico tão eficaz como um x-acto a cortar cartão) a voz tragicómica do povo em entrevistas de rua. Por exemplo: um senhor balofo de estupidez, diz que se estivesse no lugar dos administradores dos bancos também ficava com algum. ("Então, não é um roubo, é um desvio"). O problema não é roubar, é ser apanhado, claro está. E no imaginário popular do balofo (por vezes com razão) os cães grandes safam-se sempre. O balofo já é ladrão, só precisa é de imunidade, um diploma em Economia da Católica e almoços no Eleven para para se iniciar no gamanço.
Mas ele, o balofo (estaria inchado por causa de gases, vapores de bagaço, shit for brains?), para mostrar que não é ignorante de todo, revela estar a par da nova tendência racial desta época de eleições Outono/Inverno, e faz uma piada. Diz ele, sobre a presidência da câmara de Lisboa: "Eu acho que devia ser um preto, já lá está um, devia de ser um ainda mais escuro). Obama (bi-racial mas com carapinha) - 1, António Costa (apenas escuro) - 0.
Mas preparem-se para um branco no município. Preparem-se para a vitória do homem que mantém activa a indústria de gel da Península Ibérica, e que é o antónimo da palavra política - se política é a ciência da resolução dos problemas, ele é a ciência da criação de problemas: senhoras e senhores, para alegria do balofo, apresento Pedro Santana Lopes, o próximo presidente da Câmara de Lisboa.
Anatomia de uma cena, ou Há dias assim
Muito mais que um exercício vulgar de aliteração - fuck, fuck, fuck - ou de um ataque xenofóbo e niilista, muito mais que um gancho de esquerda ao queixo do mal que existe no cérebro da humanidade, esta sequência do excelente filme de Spike Lee, 25th Hour, é uma declaração de amor a Nova Iorque e à vida. Love moves in misterious ways. Monty, a personagem principal, está a enumerar tudo aquilo que perdeu por consequência dos seus próprios actos - tudo o que lhe era valioso, tudo aquilo que, lá diz o lugar comum, só valorizamos quando já não temos. Mas Monty é um homem que, ao menos, depois de fazer merda (dude was in deep shit), põe a responsabilidade da sua vida nas próprias mãos "No, no, fuck you Montgomery Borgan, you had it all and you threw it away you dumb fuck". E isso é ter cojones. Uma vez na vida que a culpa não morra solteira. I love you too New Yok.
sábado, 15 de novembro de 2008
Breaking News
Luzes, euforia televisiva, reportagens do Pai natal na Lapónia, multibancos em curto circuito, parques de estacionamento sem espaço para um par de patins, centros comerciais em erupção, árvores recordistas em altura, música de boas festas tocada em sintetizadores, coro de Santo Amaro de Oeiras, listas de compras, TSF no trânsito, top de livros, papel de embrulho, familiares peganhentos, familiares na engorda, frutas cristalizadas, aquecedores insuficientes, casas geladas, Sozinho em Casa e Música no Coração, concerto do Papa na Basílica de São Pedro, e esse calor aconchegante da repetição anual das pessoas, dos cheiros, das conversas, das peúgas novas, como quem bebeu demasiados whiskeys no sofá diante da lareira - quente, cómodo, seguro, o tempo intacto nos ponteiros parados de um relógio de sala.
Foda-se, começou o Natal.
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sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Another brick in the wall
Não quero falar da Educação. Quero falar da minha educação: primeiro um colégio católico - amizades para a vida, muita disciplina (íamos para as aulas em fila), e alguns professores dementes com uma mão tão rápida nas nossas caras como a mão de Jesse James na pistola; depois uma universidade pública e patética que, apesar das médias altas de entrada, era um palácio podre, que cheirava a Estado Novo, com professores que debitavam, ipsis verbi, as próprias sebentas nas aulas, e que diziam que não davam mais que um 12 (Portugal: país que estimula os filhos reprimindo o seu potencial). Numa recente reunião dos cursos de 94/98 não houve um ex-colega que não dissesse que se tinha arrependido de perder ali quatro anos. Uma universidade tão conservadora e caquéquita que os alunos de jornalismo jamais viram uma câmara de filmar, um estúdio de televisão, um professor que tivesse feito uma reportagem.
Não quero falar de Educação porque não sei o que é estar hoje numa sala de liceu. Mas agradeço a todos os estudantes que atiram ovos e tomates, que assustam os secretários de Estado medricas, e que põem cadeados nos portões das escolas. Caros estudantes, mesmo que não tenham razão, eu agradeço. Mas não se fiquem pelos políticos. Se por acaso virem um professor universitário que, numa aula, depois de ditar matéria durante dez minutos, se deu conta que estava a papaguear apontamentos de outra cadeira (podia ter lido o Corão ou a Casa Cláudia, era-lhe igual) façam-me o favor de meter os ovos na cesta, e de pegar numa marreta.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Donde está la zapataria?
Hoje, na única vez que saí da batcave, saí de chinelos. Batcave: onde a única actividade mutante, por estes dias, consta de uma luta para cumprir o prazo de entrega de uma tradução. Nenhum glamour de super herói literário, nenhuma vida secreta para entreter plateias, apenas e tão só, o escritor a fazer pela vida. Batcave: o abrigo nuclear contra a crise.
Saí de chinelos para a rua, mas não se tratava de pantufas com a cara do Alf, muito menos da versão para os pés desses pijamas com riscas e bolso ao peito. Não falo de xanatas de quarto. Falo de umas havaianas que esticaram, claramente, a corda do meu estilo - estão entre o arriscado e o que usaria um adolescente vedeta de novela. Têm dragões desenhados e duas listas douradas.
Saí assim porque tinha preguiça de calçar umas meias - há anos que não calço umas meias cujo par seja igual. Azul escuro vai muito bem com preto. Além disso, as minhas meias desaparecem com uma frequência bizarra (para onde?) e, como não tenho comprado roupa para os pés, acho que o meu stock está limitado a pouco mais de uma semana. Nota mental: fazer uma máquina de roupa. Os brancos vão muito bem com os azuis.
Saí para comprar queijinhos frescos. E as pessoas olhavam-me para os pés com a mesma intensidade com que Jesus lavou os pés dos discípulos. Percebi, depois de alguns minutos em marcha, que não se tratava tanto do padrão das havaianas, mas da improbabilidade de alguém, em Novembro, andar pela rua a fazer bottomless.
Todos me olhavam: as meninas cabeleireiras, à porta do salão, agitadas como adolescentes na fila da discoteca; as velhotas que se debatiam com o multibanco da mesma forma que se debatem com o comando de televisão: "Como é que meto isto no Goucha?"; o grupo de trabalhadores bigodudos e com fardas cor de laranja (um clássico: quatro em redor daquele que, embora lhe calhasse trabalhar, estava placidamente sentado na máquina com uma pança de dobrada transmontana.
Os meus pés, em vez de ficarem envergonhados, ficaram com frio. Mas, com tantos olhos seguindo os meus passos, estive perto da paróina, e pensei que me iam atacar.
Neste pequeno vale junto ao mar, tão perto de Lisboa, a diferença ainda é um espectáculo de rua. São apenas pés, digo eu. Mas, esperem, é possível que me tenha precipitado a ajuizar este fenómeno: talvez não se trate de desconfiança com aquilo que não encaixa na norma. Talvez a perversidade dos habitantes deste vale não esteja no preconceito, mas numa secreta galhofa fetichista: as cabeleireiras de espartilho e chibata, as velhotas com strap-ons e piercings nos mamilos, os trabalhadores imitando Fredy Mercury no teledisco I Want to Break Free. Todos eles fetichistas de pés, todos eles com uma batcave bem mais animada que a minha, todos eles prontos a fazerem-me a folha. Ou uma pedicure.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
You can crush us, you can bruise us
Para Kiko Saraiva e Luís Garcia
Ernest Hemingway disse: 'Um homem pode ser destruído, mas não derrotado'.
Os Clash avisaram:
'When they kick out your front door
How you gonna come?
With your hands on your head
Or on the trigger of your gun?'
Tyler Durden ordenou: 'Hit me as hard as you can.'
Em 'Batman Begins' o mordomo Alfred, pergunta a Bruce Wayne:
'Porque caímos?'
E, perante o silêncio de master Bruce, responde ele próprio:
'Para aprendermos a levantar-nos'.
Dieter Dengler, piloto de aviões, teve cinco acidentes aéreos, um dos quais ao serviço da força aérea norte americana, no norte do Vietnam, sendo capturado, preso, e torturado num campo de concentração, do qual conseguiria escapar um ano depois.'
Não tenho o heroísmo, nem as qualidades épicas, nem a a capacidade de sobrevivência de Dieter, mas hoje não me assusta ir ao chão. Quando tudo falha, quanda a lógica é substituida pela possibilidade de bruxaria negra, quando dizem não, e não atendem, e nos tiram o tapete debaixo do pés; quando a espessura do dia não nos deixa avançar, e nos puxa para o olho do furacão; quando apetece sair sem malas, sem dizer a ninguém, sem nada de nada, e ir para o outro lado do planeta, nesse momento sou o homem com o cocktail molotov na mão, o okupa, o grevista de fome, o chato do caralho, o 'daqui ninguém me tira'.
E se me perguntam, mais um round?
Claro que sim. Bring it on bitch.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
What goes in Vegas stays in Vegas
Desde que se fez luz que a religião anda a encostar-nos às cordas do rigue, golpe atrás de golpe, e não há maneira de soar o gongo: Eva de castigo no canto da sala, fora do paraíso; o geriátrico Abraão de canivete no pescoço do filho; deus a antecipar-se aos americanos quando deu uma de Hiroshima em Sodoma e Gomorra; deus (além de omnipresente é incansável) com o uniforme de Judge Dread, transformando pessoas em saleiros gigantes só porque olharam para trás, ou a ser muito mais danoso para o equilíbrio ambiental do que todos os naufrágios de petroleiros juntos: 'Cá vai dilúvio'.
O antigo testamento tem a determinação castigadora de um interrogador da Stasi. Mas depois apareceu Jesus Cristo, uma espécie de protótipo para o que seriam os hippies em Lsd, os Médicos sem Fronteiras e Gandhi. Jesus contrariava essa pulsão, constante no Pai e nos escrevinhadores da biblía, de estalar o chicote com demasiada frequência. Jesus Cristo sempre deu a outra face, até que apareceu Mel Gibson e tornou o sofrimento de J.C num filme de pontapé estalo, câmara lenta de cotoveladas na boca, saltos de pontes, quedas com fracturas expostas, numa clara homenagem ao cinema belga Jean Claude Van Dame. Pelo meio, entre a love trip de J.C e o filme de guerra de Gibson, o piedoso clero quis dar uma ajuda ao festival de porrada e, como quem dá um pontapé no tipo que já está desmaiado, decidiu inventar a Inquisição. Dear Gibson, meu condutor bêbedo e defensor de missas em latim, os teus filmes são uma massagem de pés se comparados com os teatros da Inquisição. Basta olhar hoje para qualquer das máquinas usadas nessas sessões de tortura, para perceber quem é que organizava as melhores fogueiras.
Também os muçulmanos (e podemos ficar-nos pela última década) sempre gostaram de molhar a sopa, de invandir territórios, e de apredejar mulheres em nome do profeta. Os judeus, bem, os judeus têm o joker do Holocausto, e centenas de anos de perseguição (Santo Ofício não brinca em serviço). No entanto, ainda que tenham o joker, convém, por exemplo, ter mais cuidado quando entrarem nos campos de refugiados palestinianos no Líbano como se estivessem a mandar o Casal Ventoso abaixo. Com metralhadoras.
Por isso, quando ontem vi a notícia sobre um grupo de ortodoxos gregos e outro de ortodoxos arménios, que se pegaram à pancada como gordos tatuados do Leeds United, pensei que deus, numa cadeira reclinável e comendo gomas, disse para um J.C a fazer reiki e para a pomba branca que completa o ménage a trois celestial: 'Isto é melhor que Las Vegas'.
domingo, 9 de novembro de 2008
A ordem inatural das coisas
O noticiário da noite de domingo abre com um directo, de um estádio de futebol, antes do início da partida da Taça de Portugal, Porto v Sporting, para anunciar que há adeptos a entrar e polícias a trabalhar. Viam-se, de facto, adeptos a entrar, e outros a praticar essa forma de reality tv que é pôr-se atrás dos repórteres poetas dos lugares comuns. Viam-se, também, polícias como tinha sido prometido. Faltavam quarenta e cinco minutos para o jogo.
E eu penso se não é mais ou menos a mesma coisa que:
Um pai de família chega casa no dia que a filha ganhou uma bolsa por mérito cinetífico, o filho morreu afogado na piscina por terroristas islâmicos, e a mulher acabou o décimo quinto romance histórico e ficou sem um dedo na máquina de cortar fiambre.
O pai chega a casa e, com a família, ou o que sobra dela, na sala de estar, tira os sapatos, aconchega a barriga com a palma da mão por causa dos gases e, perante a expectativa da filha genial e da mulher prosadora sem dedo indicador, põe-se a ver o noticiário da noite que abre com um directo de um estádio de futebol.
sábado, 8 de novembro de 2008
The fools we are as men
Na estação de serviço, os três rapazes que esperavam tinham mãos de ferramentas e um fato macaco a servir de uniforme - eram da mesma equipa durante todo o dia, frequentavam as mesmas noites de café, com a cabeça erguida para a televisão e um maço de Gigante ao lado da imperial. Um deles, reparei ao aproximar-me, tocava o buço como se de um bigode postiço se tratasse - com insegurança e cuidado. O do meio era muito novo, podia ser uma dessas crianças das fotos do tempo em que as crianças tinham cara de adultos ou de atrasados mentais e trabalhavam no campo. O terceiro, na outra ponta, era o mais simpático, o mais ágil, possivelmente aquele que, se deparado com um turista perdido, seria capaz de explicar-lhe o caminho.
Left, yes left, and autobus stop.
Eles esperavam como todos os trabalhadores esperam - fartos de estar ali mas mais descansados do que se estivessem a acartar com máquinas de lavar roupa. Enquanto eu pagava, talvez um deles tenha falado da obesidade lenta dos avançados do Benfica, ou dos côcos operados da Luciana Abreu, ou de uma água pé chamada 'cu negro' (dixit) que retraça o interior do cranio e do culo no dia seguinte.
'Tava todo mamadinho mano. Nem conseguia mexer a marmita na almofada.'
E depois elas chegaram: uma de cada vez, saindo do carro, revelando-se ao som das portas que se abriam, tudo em camâra lenta obrigatória, MTV style in da house, botas de pele e saias sem medo do frio, esplendores de baton, o batimento do rimmel, a certeza que, assim que elas passassem, eles iriam descobrir um rasto de perfume epidérmico que poria tudo em sobressalto. Naquele instante, eles sentiam o mesmo que sente alguém que abre a porta casa e, quando a escuridão se faz lâmpada acesa, ouve gritar: "Surpresa". Eles reconheceram esse rasto de cheiro de pele - uma reacção decretada pelos seus antepassados nus, peludos, habitantes do mato. Uma crista de pêlos levantou-se, certamente, nas costas de cada um deles, um choque eléctrico, um alerta.
Elas sairam tão depressa como entraram. E eles gagos como na primeira vez que foram ao quadro para falar da Hipotenusa, mãos contra a costura do fundo dos bolsos, peito para fora mas língua para dentro - nem sequer o tique incontrolável de lamber o buço quando há pressão na área.
Deixem-me dizer-vos uma coisa, se estes rapazes se apanhassem com elas num quarto de pensão para backpackers, talvez falhassem o objectivo com a mesma candura com que Obikwelu pediu desculpa ao povo português. Nesse possível cenário, de três para três num hostal de Fuengirola, ejeculação precoce seria, claramente, um understatement. No entanto, se eles as aguentassem nos quartos tempo suficiente, para que a potência adolescente fosse amestrada durante um namoro sazonal (1 a 6 de Agosto, pax 6, transfer incluído), então nunca a frase Vacaciones de sueño en la costa de sol fez tanto sentido num cartão postal.
Elas começaram ali, numa estação de serviço, a ganhar a noite, por causa da inquietude criada nos rapazes, que bombavam cada vez mais testosterona na corrente sanguínea e cavavam os pés no asfalto. O burburinho da caça logo no começo da noite. (Horas mais tarde, entre a pista de dança de uma discoteca e um semáforo vermelho no caminho de casa, algum Martim preocupadamente despenteado, iria meter a mão na coxa de uma das raparigas, e aproveitar aquilo que os rapazes de fato macaco começaram na bomba de gasolina às dez da noite.)
'Gosto de ti Mafalda.'
'Martim, tu gostas é que eu te saque bicos. Os teus pais estão mesmo nas Maldivas? 'Não quero ser apanhada pela tua mãe uma segunda vez.'
'Tomaste quantas pastilhas?'
'Esta tarde fiz a depilação, queres ver?'
'Meteste MD?
'Tá-se bem, Martim, tá-se muita bem.'
Os três rapazes da estação de serviço - Buço, Trabalhador Infantil e I Talk English - continuaram ali, provavelmente fazendo disparar o corpo a cada chegada feminina, felizes mesmo sem triunfar, como quem joga futebol na praia depois de muitas caipirinhas - não interessa o resultado, mas importa a diversão. Os três amigos estavam na estação de serviço como numa festa de anos com promessas de bate pé; ou nesse momento antes de entrar no avião para a viagem de finalistas; ou diante de uma caixa embrulhada que, de certeza, tem lá dentro a Playstation; ou com a mesma fome de mundo que acontece depois de sairmos sem sangue de um acidente, ou quando a coca é boa, ou na plataforma de metro de um país estrangeiro, onde nos preparamos para beijar alguém com quem trocámos longos emails e fotos sem roupa.
And that's romance in the suburbs folks.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
My oh My
I landed on that mother fucker big country two weeks after the event - the event being two airplanes piercing the phallic power of America as easily and as painfully as date raping. It was still summer time when I started packing my belongings in Portugal and my portugeek friends from Lisbon kept saying that I looked too dark. 'Estás meio monhé', and then they predicted that my tanned ass would be stopped at Newark airport and I’d be mistaken for some mo fo suicide bomber.
I ended up living in Jersey City for a couple of weeks before I could move to a smooth and yet roller coaster existence on the island of Manhattan. Let me open the door of Jersey City for you and cast some light over the life of its inhabitants: from Jersey City you can see Manhattan on the other side of the river, yeah, silver skyline and all those promises of greatness and joy. But it's the other side of a filthy and icy river – if you’re on the wrong side, aka Jersey Dirty Smelly City, not only you need to commute to get to the heart of civilization but you’re living in the midst of the Arab country. Remember back in 1993, when the bearded soldiers from al qaeda first tried to blow up the towers with some crazy ass plan, bombs in the basement, people smoked out of their desks holding to their frappuccinos as if they were baby seals on the verge of extinction? Well, the mastermind of that bomb plan used to live in Jersey City. To make a long story short: I, the dark skin Portuguese man with a Jewish nose, was living in the zone of racial profiling. Every evening on my way back home from the train station I’d walk by the house where the mastermind terrorist of class of 93 used to live and where he planed the attack on WTC. I was afraid that my complexion (a fried calls me: Argelino exilado em Paris) would provoke the diligent police officers and their patriotic duty to handcuff terrorist skinny wrists.
Before I moved to Manhattan I got to know my next door neighbor – an old black lady, slim, elegant, so graceful and eloquent she made Barak Obama sound like that mad Scandinavian cook from the Muppets. She told me that when she was five or six, riding on the bus from school, she was so tired that she sat on the white-people-only seats. Some fancy pale lady wearing gloves and smelling like too much perfume spat on her face and told her to move to the black area of the bus. ‘I was just a child’, she told me on her doorstep.
Yesterday my boy Obama won it, and I ain’t going to quote the man or raise a flag or tell you how important this black cat might be for the world and shit. I noticed that in front of him there was this bullet proof glass fence – someone might try to extinct the black man from the presidency. I thought of my old neighbor being spat on the face by some southern white bigot in a summer dress. I thought about Thomas Jefferson who wrote ‘We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness’, and yet mister T.J. owned slaves. I thought that the US of A is a strange dude full of fucked up contradictions and yet it throbs and moves forward and inspires us like the racing heart of a world record breaker. Yeah sometimes that country is as queer as a two dollar bill and as medieval as a trailer park orgy. But it keeps striving and changing and improving, and that’s more than most of the resign ass people I know can say. Plus – it’s as entertaining as a couple of hookers and an eight ball.
Look, I don’t think this was mainly about race and that from now on there won’t be more spitting on faces or bullet proof glass fences. Humans are mean mother fuckers most of the times. So it’s not about skin color – it’s about vision. It’s about this (ok I lied, I’m quoting the man because he sways much better than I do): ‘To those who would tear the world down: We will defeat you. To those who seek peace and security: We support you. And to all those who have wondered if America's beacon still burns as bright: Tonight we proved once more that the true strength of our nation comes not from the might of our arms or the scale of our wealth, but from the enduring power of our ideals: democracy, liberty, opportunity and unyielding hope. That's the true genius of America: that America can change. Our union can be perfected. What we've already achieved gives us hope for what we can and must achieve tomorrow’.
How do you like them apples?
terça-feira, 4 de novembro de 2008
The Choice
Um pouco mais de jornalismo e de política norte americana (como quem descalça os sapatos, procura a forma anatómica do sofá, e agarra no comando da televisão).
Se ainda tiverem tempo antes da noite eleitoral, sejam de MaCain, de Obama, ou mesmo que considerem que as eleições americanas são tão interessantes como as flash interviews após os jogos de futebol, deslumbrem-se com a qualidade do editoral da revista New Yorker (para ler aqui, e para ouvir aqui). Não é apenas uma declaração de apoio a um candidato, é uma prodigiosa peça de jornalismo de opinião, um puzzle montado facto a facto, ideia a ideia, em busca da clarividência, e da força que motiva uma decisão tão importante.
E, sendo escrito por jornalistas, é talvez um dos melhores discursos da campanha. Que sirva de lição aos senhores políticos. E aos senhores jornalistas.
Pulp Fiction
Eu sou jornalista e, felizmente, não sofro do sentimento de protecção da classe - grande parte dos jornalistas em Portugal não está preparada para desempenhar o seu trabalho. Muitos editores e directores também não. Facilitam, abusam do poder, fazem o seu trabalho da cadeira da redacção com a mesma bonomia do santo padre a acenar do Papa móvel. Eu sou jornalista e, cada vez menos, me apetece ser jornalista. Porque parte da comunicação social está a magoar o país, a estupidificá-lo, a embrutecê-lo, a fazer dele um café de subúrbio com a televisão sempre ligada, e onde o drama importa mais que a verdade, que o bom senso e que a decência. Ontem, a capa do 24 Horas anunciava com grande destaque a morte do filho do ex-banqueiro Paulo Teixeira Pinto. Não é jornalismo, é telenovela; não é interesse público, é morbidez comercial (notícia de 1ª página, com a foto do pai?, uma foto claramente feita há meses, em que o senhor posa para a câmara?); não é informação, é parar na auto-estrada para ver o acidente na outra faixa. Não é um jornal, é uma senhora de socas e bata a dramatizar a vida dos vizinhos. Tudo é susceptível de ser notícia. Mas eu prefiro que as pessoas sejam primeiro pessoas, e só depois jornalistas.
No entanto, sei que eles dormem como bebés quando vão para a cama.
Onde é que tu estavas quando Obama ganhou as eleições?
No livro 'Extremly Loud and Incredibly Close', de Jonathan Safron Foer, as derradeiras páginas têm fotografias de um dos homens que saltou do World Trade Center nessa manhã de 11 de Setembro de 2001. Um fim solitário, uma manobra tristemente artística, toda a humanidade em queda livre. Mas as fotografias aparecem pela ordem contrária, ou seja, se deixarmos as páginas correr rapidamente entre os nossos dedos, parece que o homem está a ascender do chão, levantando voo, elevando-se à altura máxima de um dos edifícios. O narrador do livro, uma criança de oito anos, precoce, cómica, que nos deixa o coração fora do corpo, desprotegido e pequeno, afirma no final da sua narrativa que gostava que o mundo se pudesse reboninar, que o seu pai, morto quando os aviões se amarrotaram contra os edifícios, pudesse andar para trás, descer nos elevadores, meter-se de costas no autocarro, entrar em casa como se estivesse em modo Michael Jackson moon walker, e estar ao lado do filho, na noite anterior, passando as palmas das mãos na dobra do lençól que cobre o princípio do edredon.
Hoje, as eleições norte-americanas, talvez as mais participadas de sempre (por vezes eles são mesmo o país da democracia) não servem para rebobinar a dor e os erros, a invasão do Iraque e os escândalos financeiros da Enron, as mentiras malvadas de Cheney e o sistema propagandista Bush/Fox. Não, as eleições de hoje não são apenas um tira nódoas. Não são apenas uma cirurgia correctiva.
E Obama não é apenas um negro que pode chegar a ser presidente, uma vassoura para mandar fora o lixo neo-con e os torturadores de Guantanamo. Também não se trata apenas de uma questão de raça ou da forma como a sua narrativa pessoal encaixa na narrativa americana - 'It doesn't matter where you come from but where you can get', disse-me uma vez uma amiga americana. Sim, ele encarna o sonho americano que diz que podemos ser o que quisermos. Mas mais que isso Obama representa a maravilhosa capacidade de reinvenção dos Estados Unidos.
No primeiro episódio da série Sopranos, Tony Soprano fala do seu tempo, do zeitgeist, do seu país: 'É bom participar nalguma coisa que se construa desde o chão, e sei que nasci demasiado tarde para isso, mas ultimamente, sinto que cheguei no fim, que o melhor já acabou'. Muitos outros americanos sentem o mesmo. Obama contraria essa depressão, porque é o começo de outro tempo.
Mais uma citação de um americano, desta vez escritor, narrador contundente das peripécias das pessoas do seu país. David Mamet: 'Todos temos um mito e todos vivemos através de um mito. Parte da viagem do herói consiste em que mude, completamente, a forma como percebe o mundo, através da força das circunstâncias ou da força da vontade. Mas o herói precisa sempre de rever a forma com vê o mundo'. Talvez Mamet não soubesse, mas estava certamente a escrever sobre Obama.
Comecei por falar do 11 de Setembro porque, em mais que uma ocasião, participei em conversas nas quais se perguntava: 'Onde estavas quando os aviões bateram nas torres?' Sei que a eleição de Obama não serve para levantar aquele homem do chão, fazer com que entre pela janela do edifício, puxar os aviões de volta para a pista do aeroporto. Mas quero que esta noite tenha o mesmo estremecimento que a manhã de 11 de Setembro. E quando daqui a alguns anos, no final de um jantar de amigos, com pessoas a fumar cigarros e a afundar o indicador nas pedras de gelo no whisky, alguém perguntar, 'Onde estavas na noite em que Obama foi eleito?', quero responder com toda a certeza (uma certeza no centro do estômago, algo a pulsar numa veia do pescoço) a mesma certeza que senti quando, em directo, vi aquele segundo avião a amachucar-se como papel de alumínio. Uma certeza absoluta, cardíaca, humana, de que algo vai mudar.
domingo, 2 de novembro de 2008
Sábado e Domingo
Um fim de semana a entrevistar actrizes porno espanholas (entre elas a senhora da foto) e a dar de comer a ovelhas, porcos, galinhas e um organizado e feroz bando de gansos que punha qualquer gang do South Bronx a fugir para casa e a pedir colo à mamã. Para mais relatos sobre a vida real podem ir aqui e ficar a descobrir a razão pela qual os bons diabos melhoram a humanidade.
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