sábado, 8 de novembro de 2008

The fools we are as men


Na estação de serviço, os três rapazes que esperavam tinham mãos de ferramentas e um fato macaco a servir de uniforme - eram da mesma equipa durante todo o dia, frequentavam as mesmas noites de café, com a cabeça erguida para a televisão e um maço de Gigante ao lado da imperial. Um deles, reparei ao aproximar-me, tocava o buço como se de um bigode postiço se tratasse - com insegurança e cuidado. O do meio era muito novo, podia ser uma dessas crianças das fotos do tempo em que as crianças tinham cara de adultos ou de atrasados mentais e trabalhavam no campo. O terceiro, na outra ponta, era o mais simpático, o mais ágil, possivelmente aquele que, se deparado com um turista perdido, seria capaz de explicar-lhe o caminho.
Left, yes left, and autobus stop.
Eles esperavam como todos os trabalhadores esperam - fartos de estar ali mas mais descansados do que se estivessem a acartar com máquinas de lavar roupa. Enquanto eu pagava, talvez um deles tenha falado da obesidade lenta dos avançados do Benfica, ou dos côcos operados da Luciana Abreu, ou de uma água pé chamada 'cu negro' (dixit) que retraça o interior do cranio e do culo no dia seguinte.
'Tava todo mamadinho mano. Nem conseguia mexer a marmita na almofada.'

E depois elas chegaram: uma de cada vez, saindo do carro, revelando-se ao som das portas que se abriam, tudo em camâra lenta obrigatória, MTV style in da house, botas de pele e saias sem medo do frio, esplendores de baton, o batimento do rimmel, a certeza que, assim que elas passassem, eles iriam descobrir um rasto de perfume epidérmico que poria tudo em sobressalto. Naquele instante, eles sentiam o mesmo que sente alguém que abre a porta casa e, quando a escuridão se faz lâmpada acesa, ouve gritar: "Surpresa". Eles reconheceram esse rasto de cheiro de pele - uma reacção decretada pelos seus antepassados nus, peludos, habitantes do mato. Uma crista de pêlos levantou-se, certamente, nas costas de cada um deles, um choque eléctrico, um alerta.

Elas sairam tão depressa como entraram. E eles gagos como na primeira vez que foram ao quadro para falar da Hipotenusa, mãos contra a costura do fundo dos bolsos, peito para fora mas língua para dentro - nem sequer o tique incontrolável de lamber o buço quando há pressão na área.


Deixem-me dizer-vos uma coisa, se estes rapazes se apanhassem com elas num quarto de pensão para backpackers, talvez falhassem o objectivo com a mesma candura com que Obikwelu pediu desculpa ao povo português. Nesse possível cenário, de três para três num hostal de Fuengirola, ejeculação precoce seria, claramente, um understatement. No entanto, se eles as aguentassem nos quartos tempo suficiente, para que a potência adolescente fosse amestrada durante um namoro sazonal (1 a 6 de Agosto, pax 6, transfer incluído), então nunca a frase Vacaciones de sueño en la costa de sol fez tanto sentido num cartão postal.

Elas começaram ali, numa estação de serviço, a ganhar a noite, por causa da inquietude criada nos rapazes, que bombavam cada vez mais testosterona na corrente sanguínea e cavavam os pés no asfalto. O burburinho da caça logo no começo da noite. (Horas mais tarde, entre a pista de dança de uma discoteca e um semáforo vermelho no caminho de casa, algum Martim preocupadamente despenteado, iria meter a mão na coxa de uma das raparigas, e aproveitar aquilo que os rapazes de fato macaco começaram na bomba de gasolina às dez da noite.)
'Gosto de ti Mafalda.'
'Martim, tu gostas é que eu te saque bicos. Os teus pais estão mesmo nas Maldivas? 'Não quero ser apanhada pela tua mãe uma segunda vez.'
'Tomaste quantas pastilhas?'
'Esta tarde fiz a depilação, queres ver?'
'Meteste MD?
'Tá-se bem, Martim, tá-se muita bem.'

Os três rapazes da estação de serviço - Buço, Trabalhador Infantil e I Talk English - continuaram ali, provavelmente fazendo disparar o corpo a cada chegada feminina, felizes mesmo sem triunfar, como quem joga futebol na praia depois de muitas caipirinhas - não interessa o resultado, mas importa a diversão. Os três amigos estavam na estação de serviço como numa festa de anos com promessas de bate pé; ou nesse momento antes de entrar no avião para a viagem de finalistas; ou diante de uma caixa embrulhada que, de certeza, tem lá dentro a Playstation; ou com a mesma fome de mundo que acontece depois de sairmos sem sangue de um acidente, ou quando a coca é boa, ou na plataforma de metro de um país estrangeiro, onde nos preparamos para beijar alguém com quem trocámos longos emails e fotos sem roupa.

And that's romance in the suburbs folks.

1 comentário:

pipa disse...

" buço, trabalhador infantil e I talk english.." ahahah not all men..felizmente