terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Crónica de hoje, no jornal i


Love Story

O amor globalizado é isto: Hirsi Ali, nascida na Somália, foge da Holanda, ameaçada por islamitas radicais, e apaixona-se, em Nova Iorque, por um famoso professor escocês. No entanto, o académico é casado com a ex-directora do tablóide conservador britânico Sunday Express. Em 1992, Hirsi Ali escapou de um matrimónio arranjado pela família, pediu asilo na Holanda e, depois de ter sido empregada de limpeza chegou a deputada. Disse que, após muito pensar, teve uma epifania por causa do vinho: “Porque deverei arder no inferno por beber isto? Mas o que me alertou foi que os assassinos do 11 de Setembro acreditavam no mesmo Deus que eu.” Hirsi Ali escreveu o argumento do filme “Submission”, no qual mulheres muçulmanas, com versos do Corão escritos no corpo, relatam abusos. O realizador, Theo van Gogh, foi assassinado por um muçulmano e Ali vive nos EUA com protecção. O amante escocês, Niall Ferguson, enfrenta agora um mediático divórcio com Susan Douglas – Ferguson ganha 6 milhões de libras ao ano e Douglas será candidata pelo Partido Conservador. O Sunday Express esfrega as mãos: o tablóide moralista/voyeurista adora capas com as infidelidades dos famosos e, há dias, titulava: “Mais de 1,3 milhões de imigrantes com emprego após primeiro-ministro prometer empregos britânicos para os britânicos.” Imagino o título do Express: “Escocês trai loira conservadora com negra feminista e imigrante.” Ferguson sabe que as palavras com que descreveu as suas aparições televisivas também servem para a exploração do amor nos tablóides: “É como estar nu na rua”.


Nota: estas crónicas só estarão online até ao final da semana, depois serão exclusivas em papel no jornal i)

Sem comentários: