quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Let's look at the trailer
Este é o início de um texto para o jornal da discoteca Lux. Depois de sair em papel, teremos aqui a versão completa deste perfil. Mas até lá procurem o jornal uma destas noites. Ou já de madrugada.
The Connecter & O Monstro
Perfil de um bom diabo, de um humanista, de um instigador de festas e de um romântico. Estas são algumas das histórias reais protagonizadas por este homem viajante e animador de pessoas – sim, é preciso sublinhar que são histórias reais, porque Holden Sawyer podia ser uma personagem de ficção. Mas existe.
Por Hugo Gonçalves
Todos nós conhecemos, ou pelo menos deveríamos conhecer, alguém assim: Holden Sawyer tinha pouco menos de trinta anos quando, numa noite de semana, na cidade de Madrid, saiu da sala do Hotel Palace onde participava num jantar institucional e, mesmo antes de abandonar o luxuoso edifício e regressar a casa, passou pela porta de um salão de festas. O seu instinto pôs-se em alerta – reconheceu essa ansiedade das conversas sobrepostas, a agitação de copos, a música a inquietar um pé, depois as ancas, mais tarde o corpo inteiro em cima de uma mesa. Holden entrou sozinho, sem conhecer ninguém. Passou-se pouco tempo e Holden dançava no centro da pista, apresentava-se e era apresentado, acabara de se tornar no gerador de alegria da festa organizada para os deputados e jornalistas do Congresso espanhol. Nessa noite de 2007, ainda que tivesse casa própria em Madrid, Holden dormiu no apartamento de uma repórter especializada em política parlamentar.
Holden Swayer – nome que, por motivos de discrição, lhe atribui para este perfil – nasceu em Portugal, estudou em Lisboa e em Estocolmo, trabalhou em São Paulo e em Madrid. Muitos dos leitores talvez o conheçam e tenham estado com ele na mesma mesa de jantar, na mesma fila para conseguir um gin tónico. Os seus amigos consideram-no um condutor rápido, seguro, inalcançável nas corridas de karts. Na estrada, diz-se, Holden tem os potenciais atributos de um piloto de Fórmula 1, descritos por um psicólogo inglês como ‘a capacidade para jogar xadrez ao mesmo tempo que se foge de um tigre’. Entre outras alcunhas, Holden foi chamado de Tetris pela forma como, sentado num bar ou restaurante, organiza geometricamente todos os objectos em cima da mesa – tabaco, telemóveis, cinzeiros, carteiras. Descobri essa sua inclinação para o equilíbrio das coisas quando entrei no seu quarto em Madrid – os chapéus alinhados, as camisas dobradas em pilhas com o mesmo tamanho, a colcha da cama bem entalada no colchão, o boneco de um gato, sentado, comprado nos chineses, a balançar uma pata como se fosse o ponteiro de um relógio. Julgo que a ordem doméstica de Holden tem a mesma função das bandas sonoras na berma da auto-estrada – para nos manter no caminho.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário