quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre a parvoíce


Na Praça do Rossio, rapazes e raparigas gritavam ordens, amortalhados em capas negras, bêbedos de poder académico e ébrios de ginjinha – esta segunda condição não reprovo, até porque se me vestisse com um traje da tuna, julgasse que estar inscrito no terceiro ano de engenharia mecânica me conferia o título de veterano e ainda tivesse de passar por épocas de exames, então, também me enfrascaria a meio da tarde.

Os mocinhos e mocinhas de flanela preta berravam, “Tudo a encher”, para caloiros com cara de candidatos ao Ídolos, tão jovens ao ponto de ter borbulhas, tossir com o primeiro cigarro e aceitar que lhes ponham um penico na cabeça.

Foi então que, para agravar a parvoíce, passou um trintão de camisa desnecessariamente desabotoada e cabelo lambido. As suas palavras, embrulhadas num hálito de prato do dia, jarrinho de tinto e abuso verbal de menores, informaram o seu amigo do seguinte: “Vou ali apalpar umas universitárias.”

Olhei para os estudantes e pensei: “Se é para ser parvo ou menos que tenham uma licenciatura, sempre é uma ferramenta de trabalho, já dizia o meu paizinho”.

2 comentários:

Gustavo Gouveia disse...

se tinham penicos eram meus ex-colegas. e o trintão (31, na verdade) tem dez matriculas e apenas duas cadeiras feitas. Nesses momentos eu ponho em causa até que ponto é que o estado deve ser responsável pela (des)educação superior publica.

Joana disse...

Sou estudante do 3º ano de enfermagem,e também andamos agora em tempo de praxes. Não pude deixar de rir ao ler o post. Para além de a descrição que foi feita de tudo o que se passava e das pessoas observadas, achei especial piada à última frase...e concordo!