domingo, 14 de março de 2010

Crónica da semana passada no jornal i


O beijo

Enquanto o nigeriano Umar Abdulmutallab tentava explodir uma bomba escondida na braguilha, num avião com destino a Detroit, o chinês Haisong Jiang aproveitava o dia de Natal para vistar Nova Iorque com a namorada. Umar cresceu no norte da Nigéria, onde a polícia controla a obediência aos costumes islâmicos e onde, em 2002, cristãos e muçulmanos começaram uma batalha que matou 220 pessoas e pegou fogo a 16 igrejas, nove mesquitas e 189 casas – tudo porque um jornal cristão sugeriu que o profeta Muhammad gostaria de escolher a sua mulher entre as candidatas a Miss Mundo. Umar estudou em Londres. Haisong está a terminar um doutoramento, em Nova Jérsia, que procura soluções médicas para as cataratas. Umar tinha uma missão e preparou-se nas mesquitas radicais de Inglaterra e entre os terroristas do Iémen. Haisong também tem uma missão: a namorada que vive longe, na Califórnia, com quem passa dois mil minutos ao telemóvel por mês, e por quem, no dia 3 de Janeiro, saltou um controlo de aeroporto para conseguir um beijo de despedida: “Vi-a e, no momento, fiquei muito feliz. Não imaginei as consequências.” Por causa de Haisong – e do medo que Umar criara oito dias antes – o aeroporto parou, voos foram cancelados e milhares de pessoas ficaram em terra. Esta semana, Haisong declarou-se culpado em tribunal, pediu desculpa, pagou uma multa de 500 dólares e terá de fazer trabalho comunitário. Não foi deportado. Voou para a namorada no dia de São Valentim. Umar, o bombista interrompido, aguarda julgamento, deixando 72 virgens à solta e sem dono no Paraíso.

1 comentário:

macaco do 1ºD disse...

LINDO

http://osmacacosdosotao.blogspot.com/