domingo, 12 de outubro de 2008

It’s all fun and games until someone gets hurt



Manuel apareceu este domingo depois dos jornais ao pequeno-almoço, depois do passeio junto ao mar, e do encontro casual com casais amigos, bonitos, com filhos em triciclos escandinavos. Manuel chegou depois de uma sessão da tarde com o mais recente filme dos Coen, no qual o povo estúpido se fode (Brad Pitt), a autoridade incompetente se safa (CIA), o homem infiel não passa de um menino da mamã que precisa de colo (George Clooney), e a paranóia nos torna ainda mais vulneráveis (todos eles, todos nós).
Manuel chegou quando entrei no táxi e percebi o seu sotaque incomum. Manuel é argentino. Mudou-se para Lisboa depois da gerra das Malvinas, em 1982. Tinha-se metido nos sindicatos, nos partidos que faziam peito a uma ditadura que lançava pessoas pela porta de aviões. Manuel, o insurgente, líder do sindicato, que começou a construir metralhadoras e, numa operação stop, foi identificado pela políca – se fosse o exército não estaria a conduzir táxis no Estoril. Esteve preso com o irmão de Ernesto Che Guevara. Conseguiu asilo na embaixada portuguesa – tinha familiares portugueses – e mudou-se para cá. Dois anos depois conseguiu tirar o filho da Argentina, porque a mulher já tinha sido assassinada pelos militares. Manuel disse-me: “Estagnei, parei”.
Por vezes, nessa enciclopédia dos horrores que os humanos legam a outros humanos, confundo siglas, países, governos – CIA, Castro, Kissinger, Pinoché, Mugabe, junta militar argentina etc, e etc, e mais etc. Quem é quem e quem fez o quê?, parecem-me uma família em que todos usam o mesmo penteado e escolheram a mesma profissão.
Para que tudo possa ser mais claro, para perceber melhor o que se passa quando nos fuzliam o amor, nos expulsam de casa e nos obrigam a estaganar, a parar, a sofrer, pedi a Manuel o seu número de telefone, para que um destes domingos me conte toda a sua história frente-a-frente, sem que precise de procurar-me no retrovisor.

2 comentários:

Tunguana disse...

Pode ver o procurar o libro : Nunca mas de Ernesto Sábato e ai tem que chega.....
Tunguana
argentino.

Hugo Gonçalves disse...

Hola tunguana, en el mismo día conosco a dos argentinos en portugal... aunque uno sea en internet- muchas gracias por tus comentários y seguro que buscaré ese libro. un abrazo, Hugo