sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Feios, porcos e maus (mas estou bem disposto)
Sade: menino. Dante: poeta de paninhos quentes. Hunter S. Thompson: totó. Se qualquer um deles fizesse compras no Pingo Doce do Campo Mártires da Pátria, teria produzido literatura freak show a sério, infernal, sem dentes na gengiva superior e de cabelo oleoso; literatura de rés-do-chão onde vivem avós, pais, e filhos; poemas de unha encravada e frases gritadas, por adolescentes grávidas, no corredor da higiene pessoal: "Ó mor lê ali o coiso que eu não posso por causa da pança".
Pensava eu ao acordar, observando o castelo e a Graça pela janela: Uma manhã de sexta-feira para pôr um pouco de ordem na vida doméstica e retirar os horários de dentro do cranio. Por isso, atravessei o jardim com patos no lago e galos tão imperiais na crista e nas penas do peito como obtusos no movimento incessante de cabeça. E crianças com as mães, e jovens viajantes, sem t-shirt, a brincar com a sua entourage canina, e relva que cheira sempre a relva, e a ideia de que este pode ser um extraordinário dia para a espécie humana.
Depois da bela, veio o monstro. Se comparadas com este supermercado, Sodoma e Gomorra não passam de parques da Disney. Estou bem, é verdade, sobrevivi aos vegetais moles e murchos como uma actriz velha e sem trabalho; enfrentei o rapaz da caixa que tinha pele de metadona; fui empurrado na fila, afastei-me das abóboras gelatinosas; saí para a rua e atravessei de novo o jardim com a relva que agora cheirava mais a campo do que a relva - cheirava a flores amarelas que se mordem e são amargas.
Lição de um dia que será, de certeza, extraordinário para a espécie com polegar oponível: ou mudo de supermercado, ou transformo-me num escrito maldito.
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1 comentário:
ahahaha, já desisti de ir a esse, que é mesmo assustador!
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