segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

London (iii)


Em Londres fala-se da crise, mas fala-se de uma forma diferente - não se trata de fazer queixinhas, de afundar os dedos tão fundo nos bolsos que deixamos de conseguir sacar as mãos e pôr-nos em guarda quando é preciso. E é preciso que seja agora.

O Marks & Spencer anuncia o esforço para diminuir o lixo que produz. Os supermercados Sainsbury's incentivam as pessoas a não usar sacos de plástico. Na rua, cartazes mostram a cara de um rapaz, com nariz de porco, e alertam contra a falta de civismo daqueles que atiram lixo para o chão. Celebra-se por esta altura o Red Nose Day: nas empresas, ou em casa, as pessoas são encorajadas a fazer algo com graça a fim de conseguir dinheiro para a caridade. Há agora, por exemplo, menos autocarros nas ruas (talvez muita gente não tenha percebido, mas temos de recuar nos nossos espalhafatosos exercícios de abundância). O problema não é apenas a crise, mas como reagimos. E aqui reage-se.

Um amigo português, a viver em Londres, contava-me que outro amigo, também português, com morada na Suécia, apanhava boleia para o emprego com um colega que gostava de chegar meia hora antes de tempo. O carro entrava no enorme parque de estacionamento e o sueco insistia em estacionar longe da porta. O português perguntou-lhe um dia a razão pela qual deixava o carro no outro lado do parque quando podia estacioná-lo ao lado da porta. O sueco disse: "Porque eu tenho tempo. Quem chegar atrasado precisa de ficar mais perto da entrada."

Não nos enganemos. Em Londres há sujidade, e miúdas adolescentes a comportarem-se como estivadores e crime e selvajaria. Mas há uma diferença. Tanto em Londres como nesse parque de estacionamento na Suécia há mãos em guarda, fora dos bolsos, porque
o progresso de uma sociedade não se mede apenas pelo tamanho e profundidade dos seus problemas, mas sim pela vontade das pessoas em resolver esses mesmos problemas.

3 comentários:

João A. Quadrado disse...

caro hugo

o gosto que nutro pela forma crua como ordenas as palavras, continua lá, como continua presente "o coração dos homens"... o quê, o porquê não sei, mas respirar as palavras, gosto...

daqui e sempre

Leonardo B.
Bizarril / Castelo Rodrigo

www.nalinhadasfronteiras.blogspot.com

L.T. disse...

só´uma coisa, tu estás a comparar com portugal ou com o brasil?
se bem que, com o brasil nem seria possível comparar...

Eu sei que vou te amar disse...

Hugo um post muito interessante, alias moro em Londres e gostei da forma como retrataste a crise que anda a contaminar os paises, nesta realidade ainda existe espaco para o positivismo!
Beijo doce