terça-feira, 15 de setembro de 2009
O professor
O pequeno ditador teria gostado que este texto começasse com uma frase tão portuguesa como: "Faz-me espécie". E sim, faz-me espécie a deferência académica que alguns de nós ainda demonstram sempre que o mencionam - "O Professor Oliveira Salazar" - como se tivessem sido alunos dele ou admirassem a sua carreira académica em Coimbra. Talvez se possa dizer que um homem que chega a catedrático merece ser designado pelo seu título, especialmente se estivermos em 1926. O que me surpreende é como "professor" é usado para demonstrar respeito, exactamente da mesma maneira que muitos condescendem a ditadura com a habilidade de Salazar para ter as contas em dia, ouro nos cofres e um país fora da II Guerra Mundial - mais ou menos como o pai que arreia nos filhos de cinto mas até põe comida na mesa.
Salazar foi eleito há pouco tempo o maior português de sempre - título curioso para quem acreditava que a pobreza era honradez, para quem detestava elevadores, usou as mesmas botas durante anos e, apesar do império do Minho a Timor, só saiu de Portugal uma vez, para ir a Espanha. A sua grandeza estava na capacidade para fazer os outros pequenos, temerosos e conformados.
Hoje, ao passar por baixo de um viaduto da CRIL, fiquei feliz. Na parede de cimento, estava a prova de que a insolência dos suburbanos é melhor que a reverência ao pequeno ditador. Um qualquer graffiter com conhecimentos de História e queda para a poesia rimada, escreveu esta frase: "Santa Comba Dão é a terra do cabrão".
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4 comentários:
Esteve bem... :)
I second that!
Muito bom!
ihihi hugo is back
O que tem piada é que nunca ouvi nenhum dos que faz as honras a esse professor, tratar Francisco Louçã - distinto economista com vários prémios internacionais que Salazar nunca obteve - pelo devido titulo académico. Falta imparcialidade neste país
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