sábado, 28 de maio de 2011
O teu cheiro
És toda partículas que se espalham pela casa, és toda moléculas de pele que pairam como bandos de pássaros numa casa de janelas abertas para a cidade das palmeiras, dos jacarandás, das árvores que conspiram para plagiar o teu cheiro. Escuta como digo: o teu cheiro. Está nos vincos da almofada que te marcam a cara quando dormes toda a manhã, está nas meias coloridas e nas pastilhas elásticas que deixas nos recantos do quarto, está nas mãos que não se cansam de te apertar. O teu cheiro: milhões de partículas que se despegam desses lugares em ti, do cabelo molhado quando sais do banho e um rádio toca alto na sala, das mãos escrevendo bilhetes com caligrafia de carta antiga, da curva do pescoço que serve de casa, de templo, de falésia ao resto do teu corpo.
Não há outra maneira de o dizer: farejo-te como um bicho, o nariz imitando os dedos, deslizando pela tua pele como um peregrino ou um caçador. O teu cheiro: infinitos fragmentos de ti, o teu código genético, tudo aquilo que já foste - mergulhos na praia Grande, mortais de ginasta, sobrancelhas levantadas pela curiosidade de perceber e viver tudo o que te rodeia. O teu cheiro, ainda o teu cheiro. Se te toco altera-se, se acordas é outra coisa, se te vais embora fica por aqui, balançando todo o dia como uma cama de rede num alpendre. O teu cheiro: tantos e tantos pedaços de ti que respiro agora mesmo, suaves estilhaços que pousam nos pulmões e entram na circulação sanguínea, instalando-se em cada célula, forrando o lado interior do coração. O teu cheiro és tu a pulsar dentro de mim.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Este post cheira bem. :)
mas que delícia de declaração de amor... parabéns!!!
Wonderfull:)
Belíssimo.
Enviar um comentário