terça-feira, 31 de março de 2009

Na minha rua (i)


O homem do talho atravessa a rua, ata o saco num cordel pendurado do terceiro andar, e a senhora de bata eleva o saco com (agora imagino eu) costeletas de porcos, iscas e uma morcela de sangue. Melhorou o meu dia.

E eu no Facebook.

O que me atrai tanto nos contraste e nas diferenças?

Uma miúda de sardas, que me ofereceu um livro ("The pugilist at rest"), e que hoje tem um filho e ensina História de Arte em Rochester, disse, encostada numa parede em TriBeCa (os dois bêbedos, os dois a prolongar o desassossego até ao primeiro beijo, apenas proximidade, nenhum toque ainda): "You get bored easily, don't you?"

Mas tem de ser mais que isso. Não pode ser apenas o temor da pasmaceira. Porque razão gosto de estar sentado num restaurante (meia dose de filetes 4,5 euros), com erasmus franceses, reformados que tocam harmónica e trabalhadores marroquinos manchados de tinta?

Talvez porque acredite que, tendo em conta as possibilidades da vida, seja um desperdício acreditar num livro de instruções.

1 comentário:

macaca grava-por-cima disse...

Porque a riqueza está na diversidade... No resto, está certamente a monotonia...

Tanta realidade, num post tão pequeno!!! Genial!