segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Madrid mola mazo - pero mis amigos aun más


Para a Marta Flor de Lima

Não se volta a um lugar onde fomos felizes? Bullshit. Madrid continua a ser um excelente fornecedor de felicidade e de esclarecimento. Talvez tenhamos medo da nostalgia do regresso - sim, ao andar sozinho pelas ruas que durante três anos me serviam de circuito diário, comecei a pensar que uma qualquer pancada na cabeça me aproximara da condição lacrimejante de Stephen King - o autor americano, depois de atropelado, confessou ter chorado a ver o Titanic.

Temos medo do regresso porque não podemos repetir essa felicidade, porque queremos tantas coisas mas não temos corpo nem tempo nem coragem. Mais que tudo, temos medo. We are fucking pussies lounging on the couch. E o medo é como uma cabeça enfiada num saco plástico: mais tarde ou mais cedo asfixiamos.

Esta viagem a Madrid, com noites em fast foward e as gargalhadas dos que ainda insistem em gostar de mim, permitiu-me perceber que não posso ter tudo (já tinha percebido antes, mas é sempre bom acrescentar mais uma nota mental), e que, tendo em conta as possibilidades do planeta, seria estúpido não sair da freguesia de São Martinho de Sintra (onde nasci). Sei que dificilmente farei uma volta ao mundo em bicicleta, mas a imobilidade come-me o cérebro como uma praga de gafanhotos - e não falo necessariamente da imobilidade geográfica.

Entre as festas e as ressacas, entre as conversas de diplomacia social com pessoas que acabava de conhecer e a cumplicidade dos amigos, senti esse rumor no sangue que nos diz que precisamos de acumular experiências, que a curiosidade nos faz continuar, que devíamos gostar mais da verdade (ainda que isso dê trabalho), e que parar é mesmo martelar um prego no caixão. No entanto, no centro do barulho das luzes ou nesse estado febril de sofá a que chamamos ressaca, estou cada vez mais seguro que a viagem a sós seria sempre insuficiente - tão insuficiente como eu. Os Ornatos Violeta diziam que o monstro precisa de amigos. E este monstro concorda.

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